quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Legalizar o aborto?



A questão da legalização do aborto no Brasil tem sido muito comentada recentemente nas redes sociais; o tema deve ser discutido com cautela, pois envolve uma série de ideias, opiniões e muitas divergências. No entanto, é inegável que a maioria das sociedades avançadas cultural e politicamente e que, principalmente, superaram os dogmas criados pela Igreja Católica, acabaram por descriminalizar a prática do aborto, como medida de atenção à saúde pública.

As redes sociais estão se estabelecendo como uma útil ferramenta de debates acerca dos mais variados temas. Desta vez o tema da legalização da prática do aborto no Brasil entrou em pauta e as mais diversas manifestações dos internautas foram surgindo. Movimentos feministas, pastores de igreja e até o médico Dráuzio Varella entraram na discussão, cada qual com sua opinião.

Da gama de ideias discutidas, podemos citar um argumento do famoso médico Dráuzio Varella: “O aborto é permitido no Brasil – para quem pode pagar”. E é esse fato que nos faz refletir que hoje é o poder econômico que está decidindo quem pode e quem não pode realizar o aborto. Os índices de condenações pela prática do aborto são pequeníssimos, portanto só faz quem pode pagar uma clínica especializada ou até mesmo viajar para o exterior para fazê-lo.

Já as mulheres pobres, não tem a quem recorrer, visto que o SUS está proibido de realizar o procedimento. Deste modo, como disse Dráuzio Varella, a legalização do aborto “pode salvar a vida de mulheres que, muitas vezes, já são mães, sofrem para criar os filhos sozinhas, buscam prevenção no SUS, não encontram, e se tornam mais uma vez vítimas, ao abortarem em clínicas clandestinas, ou dentro de casa, em solidão desesperada”.

Outra barreira importante nessa mudança da legislação penal brasileira são as paixões religiosas que alienam muito algumas questões cruciais para nosso país. Como diria Freud, a religião infantiliza a discussão. Ao dizer que a alma da pessoa está presente desde o momento inicial da gestação, não há meio de resposta, pois a afirmação é desprovida de qualquer elemento científico e físico, que seja capaz de gerar um debate em alto nível de ideias.

Por fim, podemos afirmar que a discussão virtual está se tornando uma ferramenta importantíssima para toda a sociedade. Serviu, nesses últimos tempos, para abrir a cabeça de muitos para a questão do aborto, que não é tão discutida quanto merece ser. O tema é crucial e importante, pois bate de frente com dogmas religiosos e pode salvar muitas vidas.

Por Eduardo Luft - JSB de Santo Ângelo/RS

6 comentários:

Anônimo disse...

Com uma opinião dessas, na próxima eleição, já sei que não mais votarei no PSB.
Não mais votarei também em politicos que alegam ter um mandato em defesa da vida, quando seu partido sustenta uma posição diversa.

Rodrigo - Cachoeirinha

Eduardo Luft disse...

Lembrando Rodrigo, que esse texto não representa a posição do partido sobre o tema, nem mesmo da JSB. É apenas a exposição de um artigo feito por um de nossos componentes.

Vale dizer que o blog da JSB gaúcha é um espaço para divulgação de ideias e para realização de debates acerca dos mais variados temas.

Pelo visto, você tem uma opinião contrária à que foi colocada no artigo, portanto seria muito interessante se você expusesse as suas ideias acerca do tema para que pudessemos realizar um belo debate aqui no blog.

Tony Sechi disse...

Isso Mesmo Eduardo. Eu por exemplo, tenho uma opinião um pouco diferente da tua, mas esse espaço foi feito para que possamos opinar sobre as questões divergentes. Viva o Socialismo e a Liberdade.

Tony Sechi - Secretário Geral JSB Nacional

Darlan Marchi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Darlan Marchi disse...

Socialismo e democracia pressupõe liberdade de opinião e expressão. Sem radicalismo seja ele de que lado for. O que nós enquanto Juventude Socialista não podemos nos negar, é de expressar nossos pontos de vista e propostas para politicas públicas nesse sentido.O problema existe e então, vamos ignorá-lo??
Para mim a questão está na ordem da saúde pública. Os abortos vão continuar acontecendo, nós todos querendo ou não. O que é preciso é politica pública que discuta o tema incansávelmente. Não dá mais para fazer de conta que o problema não existe e reduzi-lo a um tabu de ordem moral e religiosa simplesmente como a CNBB, por exemplo, tem feito. O que não dá mais é para criminalizar as mulheres que praticam, muitas vezes elas estão em um estado tão fragilizado nessa sociedade patriarcal e machista e não podem ser julgadas, principalmente as de moenor poder aquisitivo.As mesmas mulheres que irão lotar os hospitais ou morrer nas filas do SUS depois de fazer o aborto clandestinamente. Porque como disse o Eduardo no texto, quem tem dinheiro paga boas clínicas e faz igual...É problema de saúde pública, problema social grave e precisa ser encarado de frente.
Eu nunca iria aprovar um aborto de um filho, questão de consciência minha, principios meus. Mas, como posso avaliar a conjuntura da vida de outra pessoa que o fez? É um tema bastante complexo, mas que não pode deixar de ser exaustivamente debatido.
O governo socialista do Uruguai aprovou a lei de discriminalização do aborto alguns dias atrás,por entender que essa não é uma matéria a respeito de condenar fulana ou cicrana que realizou o ato, mas um problema da mulher ter direitos sobre seu corpo, um problema social grave. Nos afastemos dos dogmas religiosos e analisemos as questões de ordem social (esse é o papel dos socialistas, não?).
Da mesma forma a Argentina e o Uruguai têm dado um banho de democracia e engajemento político em nós brasileiros além do tema do aborto, houve a aprovação da União entre casais do mesmo sexo na Argentina e o julgamento e prisão dos torturadores da ditadura... E a gente continua tentando negar os problemas e continua fazendo de conta que as coisas estão ótimas.

Neusa Cavalheiro disse...

Caro Rodrigo, cabe aqui um debate político e não religioso. Está na hora de colocarmos o "dedo nessa ferida", pois o aborto é uma questão de saúde pública. E nós devemos encará-lo como tal. Vocês sabem que...
- 686 mulheres são internadas pelo SUS a cada dia, em decorrência de complicações relacionadas ao aborto?
- os abortos contribuem com 15% da mortalidade materna?
E esses dados não são invenções nossas,são dados do Ministério da Saúde .

Portanto, vamos colocar as questões religiosas de lado e encarar os fatos!