segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Beto Grill sustenta que aliados devem evitar conflitos eleitorais



Atento à relação entre os partidos que integram o governo Tarso Genro (PT) neste ano eleitoral, o vice-governador Beto Grill (PSB) defende que os integrantes do Executivo estadual têm que subir no palanque dos candidatos que apoiam sem desqualificar os adversários que pertencem a legendas aliadas da gestão. Para Grill, a disputa municipal não pode ser confundida com a gestão em nível estadual, sob pena de o Estado sair perdendo. O vice-governador observa que um dos pilares da administração petista é justamente a aliança com diversas siglas (PSB, PCdoB, PDT, PTB, PPL e PRB).
Por isso, o socialista sustenta que, em Porto Alegre, onde a disputa entre aliados promete ser acirrada, haja uma relação respeitosa na campanha. “A cidade estará em boas mãos, independentemente do prefeito que for eleito”, opina. Grill irá apoiar a deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB), que conta com o apoio do PSB.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Grill ainda faz um balanço do primeiro ano da gestão de Tarso e de sua participação no governo. E comenta as ações que o Executivo está buscando para viabilizar uma solução definitiva para o problema da estiagem no Estado.

Jornal do Comércio – Como será seu posicionamento nas eleições, já que o governo tem partidos aliados disputando entre si em muitas cidades?
Beto Grill -
Eu e todas as lideranças dos partidos políticos temos que ter a competência de subir no palanque e defender aquele projeto que entendemos que é o melhor, mostrando seus aspectos positivos sem destruir o outro candidato.

JC – Porto Alegre é um desses casos. O PSB apoia a deputada Manuela D’Ávila, mas outros dois partidos aliados ao governo Tarso – o PDT, de José Fortunati, e o PT, de Adão Villaverde - também possuem candidato.
Grill -
Tenho dito que Porto Alegre, nessa eleição, escolherá entre o candidato bom e o muito bom: não existe nenhum projeto de governo que possa representar um desastre de gestão. São estilos e propostas diferentes, mas todas conduzidas por pessoas muito capazes. A cidade estará em boas mãos, independentemente do prefeito que for eleito. A proposta que estamos construindo com o PCdoB está madura, é legítima e pode representar o interesse do Estado. Vou subir no palanque para defender meu candidato, assim como o governador Tarso, cada um mostrando as qualidades do seu projeto, não confundindo debate eleitoral municipal com o debate estadual, que se configura em outra instância e que temos que preservar para o bem do Rio Grande.

JC – No primeiro ano do governo Tarso, o PSB fez reivindicações por mais espaço. E teve atritos com o PT, houve o caso da perda da relatoria do orçamento e as críticas do deputado Daniel Bordignon (PT) aos socialistas. Como o senhor avalia a relação do governo com o PSB?
Grill -
Construir uma aliança dessa amplitude é uma engenharia política, e a primeira grande ação do governador foi ter a competência de estabelecê-la. É evidente que, no percurso, existem mal-entendidos e algumas interpretações equivocadas que podem trazer ruídos. Mas se está conseguindo avançar. No PSB, por haver quadros capacitados e que teriam condições de estar colaborando com a administração, às vezes se expressa certo aborrecimento por não poder contribuir mais e da forma como se deseja. De qualquer forma, deve-se entender que é preciso espaço para o conjunto de partidos que estão representados e todos possuem bons quadros.

JC – Qual é a sua avaliação desse primeiro ano do governo?
Grill -
De forma geral, é positiva, já que conseguimos avançar em muitas questões importantes. Primeiramente, o governador se ocupou da construção de uma ampla base representativa de apoio político, que garantiu sustentação ao projeto de governo no Legislativo, e da criação de novas estruturas administrativas, como a Secretaria de Desenvolvimento (e Promoção do Investimento). Os critérios propostos para fortalecer a base produtiva do Estado foram estabelecidos com a intenção de atrair investimentos e desenvolver nossa economia, aumentando o recebimento de tributos e gerando condições de reinvestimento desses recursos em áreas prioritárias, como saúde, segurança, educação. Também foi trabalhada a recuperação do funcionalismo, priorizando acordos salariais para que o Estado possa prestar serviços de qualidade através de profissionais reconhecidos. E a implantação de um sólido sistema de interação com a sociedade vem respondendo de forma significativa.

JC - De que forma?
Grill -
O Plano Plurianual (PPA) Participativo e o Gabinete Digital são exemplos de comunicação entre o governo e a sociedade civil. Reunido à experiência do Orçamento Participativo (OP), por meio dessas ferramentas pudemos ouvir as demandas da população presencialmente. Esse conjunto foi coroado com a criação de um órgão consultivo, que é o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão). Esses são os pilares aos quais atribuo o sucesso e o otimismo resultantes do primeiro ano de governo. E ainda adaptar a estrutura e a sintonia com o governo federal e também buscar recursos de financiamento orçamentário na União.

JC - A dependência de operações de crédito para realizar investimentos não preocupa?
Grill -
Não há preocupação, é um processo natural. O Estado precisa de serviços e obras de infraestrutura, que pela primeira vez contam com uma proposta de financiamento. O Estado tem que financiar o desenvolvimento. Esse é um dos pilares, juntamente com a “arrumação da casa”, a progressão do projeto de governo, a comunicação com a sociedade, a relação com o governo federal e a parceria com o setor produtivo. Através desse diálogo permanente, dessa postura de estar ao lado daqueles que fazem investimento no Estado, estamos conseguindo ótimos resultados. Conseguimos reunir, na Expointer, Fetag, MST, Via Campesina e Farsul em um ato importante e simbólico. Todas as entidades discutiram formas pelas quais cada uma poderia contribuir para o desenvolvimento. É um avanço nas relações, é criar um ambiente favorável de confiança.

JC - Como isso trará benefícios para o Rio Grande do Sul?
Grill -
A iniciativa privada, tanto na agricultura familiar, quanto no agronegócio, pode dar resposta na indústria e nos setores de investidores. O Estado cresceu mais que a média nacional (em 2011). O maior incremento se fez por meio da produção primária de grãos, leite, carne e da agroindústria, da indústria de transformação daquilo que é produzido no campo. Nossa aposta de desenvolvimento conta com uma sustentação a partir da economia tradicional (agricultura familiar, agronegócio), o incentivo às cooperativas e à nova economia (tecnologia da informação), agregando outras indústrias e atraindo investimentos e recursos “de fora” para complementar a nossa base. Essa estrutura, juntamente com as universidades, trabalhando pela inovação e o avanço da ciência e da tecnologia com a diretriz de aproveitamento da produção interna para a transformação em riqueza, tem de dar certo. É o nosso plano: apostar na otimização das potencialidades do Rio Grande, sabendo que enfrentamos dificuldades, sejam climáticas ou cambiais, para o desenvolvimento do Estado.

JC - Que avaliação faz da sua participação no governo? Suas metas incluíam o combate às desigualdades regionais, campanhas de trânsito e a melhora na relação com Porto Alegre.
Grill -
O Programa de Combate às Desigualdades Regionais, presente em nove regiões do Estado, atua de forma pontual, a partir de ações que visam a auxiliar municípios nos quais o índice de desenvolvimento econômico é menor do que no restante do Estado.

JC - E o que já foi feito pelos municípios mais pobres?
Grill -
As ações de combate às desigualdades regionais se fazem através da execução de obras das secretarias. Nas estradas, no que diz respeito às ligações asfálticas, houve um aumento muito significativo na Metade Sul. O programa de retenção de matrizes ovinas, também voltado para a mesma região, objetiva olhar para a Metade Sul de maneira diferenciada. O instrumento do Fundopem mantém uma atenção especial para as empresas naquela localidade - no polo naval, na indústria oceânica. São ações que vão despertar os investidores para a região. A luta permanente para a duplicação das rodovias BR-116 e BR-290 são outras ações políticas. O fortalecimento da infraestrutura de energia elétrica para o desenvolvimento de Pelotas e Rio Grande, a exploração da usina de Candiota e a ampliação dos parques eólicos são exemplos que mostram que o gabinete está sempre ao lado para a viabilização de qualquer iniciativa. O gabinete tem o trabalho de fortalecer e ser um canal de reivindicações e comunicação a colaborar com as ações dos prefeitos e as iniciativas de investimento empresariais, dinamizando a economia do Rio Grande do Sul.

JC - E o trabalho para reduzir a violência no trânsito?
Grill -
Já existe uma mudança no comportamento dos motoristas. Houve um trabalho intenso, fruto do envolvimento de Detran, Polícias Rodoviária Federal e Estadual, Cetran e da participação da sociedade civil organizada com a integração dos municípios. O projeto Balada Segura, por exemplo, realizado com a EPTC em Porto Alegre, já mostrou resultados excelentes no que diz respeito à diminuição de óbitos em quase 30%. No Estado, a redução foi de 8% em comparação a 2010. Esse quadro é representativo se considerarmos que o número de veículos continua aumentando. Neste ano, procuraremos incrementar as ações voltadas à educação e à conscientização do pedestre e do condutor, à fiscalização e à seletividade para a aquisição da carteira de motorista.

JC - O projeto Balada Segura poderá chegar a outras cidades?
Grill -
Deverá se expandir aos principais municípios do Interior, já que estamos trabalhando com a Famurs para a criação de convênios com as prefeituras que viabilizem essas medidas. Implantamos também o projeto Viagem Segura e obtivemos bons resultados. A operação é similar, entretanto, é realizada nos pontos críticos das estradas com o apoio da Brigada Militar e da Polícia Civil.

JC - E projetos em parceira com a prefeitura da Capital?
Grill -
Algumas iniciativas se materializaram, processos que vinham se arrastando há muito tempo. Na revitalização do Cais, construímos as condições e o projeto já pode ser desenvolvido. O transporte fluvial entre Guaíba e Porto Alegre, o metrô, as obras para a Copa do Mundo de 2014 e a ampliação do aeroporto são amostras simbólicas do trabalho em conjunto entre o governo estadual e o municipal. Conseguimos avançar com relação ao tratamento do município de Porto Alegre.

JC - O senhor assumiu interinamente o governo do Estado em um momento delicado, quase 200 municípios sofrem com a estiagem. Qual é a avaliação das medidas tomadas até aqui?
Grill -
É um quadro que nos traz preocupação. Vamos sofrer consequências na economia, fruto dessa estiagem. Temos 166 municípios em situação de emergência e 1 milhão de pessoas atingidas. E as previsões sugerem o aumento desse número nos próximos dias. Estamos tomando todas as medidas necessárias. Um grupo de secretarias afins e órgãos de governo se reuniu todos os dias, acompanhando a situação. Também estivemos nos pontos afetados pela seca, conversamos com prefeitos e lideranças da produção dos locais.

JC - Além das medidas emergenciais, o governo está pensando em soluções definitivas?
Grill -
Está sendo trabalhado um plano, que já conta com o aval da Secretaria da Fazenda e com a concordância da Secretaria do Meio Ambiente, que deve viabilizar a criação de um sistema de ampla irrigação aos produtores para que não se dependa da incidência de chuvas. Também estamos vigilantes com as ações humanitárias voltadas ao fornecimento de água potável e alimentos à população.

Perfil

atural de Pelotas, Jorge Alberto Eduardo de Grill mudou-se ainda na infância para São Lourenço do Sul, em uma região que hoje corresponde ao município de Cristal. Fez Medicina na Furg e tem especialização em Ortopedia e Traumatologia. Começou a ter interesse pela política na faculdade, quando se tornou simpatizante do antigo MDB. No entanto, a primeira filiação partidária veio só nos anos 1980 no PDT, de Leonel Brizola. Em 1988, disputou a prefeitura de São Lourenço do Sul, onde atuava como médico. Elegeu-se deputado estadual em 1990. Dois anos depois, voltou a concorrer ao Executivo e desta vez foi escolhido prefeito de São Lourenço. Em 1998, Beto Grill deixou o PDT e, no ano seguinte, filiou-se ao PSB, sigla em que permanece até hoje. Passou a atuar como médico em Camaquã. Em 2000, foi eleito prefeito de Cristal - município onde fixou residência – e, em 2004, buscou, com sucesso, a reeleição. Dois anos depois, disputou o Palácio Piratini e, nos anos de 2007 e 2008, coordenou a bancada do PSB na Assembleia Legislativa. Em 2010, foi escolhido para representar o partido na chapa com Tarso Genro (PT) e se tornou vice-governador do Estado. Tem 57 anos.

Entrevista realizada por Fernanda Bastos do Jornal do Comércio

Um comentário:

Mirna disse...

Jorge Alberto Eduardo Grill tem um perfil muito semelhante a muitos outros médicos que se dedicam a política. Ensino universitário e ter outra profissão que pode viver, é um especialista em ortopedia e traumatologia ortopedia e traumatologia. Parece estranho, mas é muito comum. Há muitos médicos na política.